01 - O que dizer para os pais que perderam um
filho?
Sempre que houver oportunidade.
Todas as pessoas que estiverem
solidárias naquele momento, mas principalmente os amigos e familiares.
Num primeiro momento nada. Deixar a
família decidir no tempo em que eles acharem adequado. Muitas vezes os amigos
querem ficar com alguma lembrança, e na maioria delas os pais não se importam
em dar. Desde que se tenha intimidade suficiente com os amigos para isso.
Outras vezes são os irmãos que pegam as roupas para usar isto é notado, por
muitos pais, como uma homenagem, uma forma de demonstrar carinho e permite que
se fale sobre a pessoa que se foi de forma natural e real.
Uma família que perde um jovem é
muito assediada, num primeiro momento, são os amigos, familiares, vizinhos,
colegas, etc. A medida em que o tempo vai passando e as pessoas vão retomando
sua rotina, “pois a vida continua” para todos, é que para os pais e familiares
mais diretos, a realidade começa a se impor. As pessoas já não querem mais
falar sobre o que aconteceu, como se não falando ajudasse a esquecer ou a não
doer.
Ao contrário de outras perdas, o
tempo, no caso dos pais, no começo não é um bom aliado, e quanto mais os dias
vão passando, mais aguda fica a dor da realidade. O tempo cronológico de perda
não é o mesmo da assimilação. Dói ver a rotina sem o filho. A vida não é mais a
mesma, ela não continua, ela recomeçou sem aquela pessoa, e com uma história
interrompida. Nada é igual a família modifica, falta um prato na mesa, tem
alguém que não entra mais pela porta dizendo “família cheguei”, ou “mãe, pai
sou eu”, ou ainda “o que tem para comer”. Não se escuta mais o mesmo barulho na
casa, a chave abrindo a porta de madrugada, nem o mesmo entra sai de amigos,
não há mais musica alta, nem folia, computador e telefone ocupados o tempo
todo, festa todo o final de semana ou porta de quarto fechada cheirando a
segredo.
É esta a realidade que machuca. É
essa realidade que só se instala na casa e na vida de quem perdeu. Para os pais
dói ir ao supermercado e não comprar aquilo que estavam acostumados a fazer
automaticamente, as coisas preferidas do filho. Dói colocar na mesa a comida
que ele amava comer, fazer o caminho do colégio, chegar à hora do almoço.
Anoitecer. Sim são estes os detalhes mais delicados de se lidar, e que passam
despercebidos por quem não compartilha a rotina. Consolar talvez não seja o
mais adequado, sugiro agüentar a dor do amigo, deixá-lo falar, respeitar seu
silêncio, seu tempo. Não há consolo para esta situação. È necessário
disponibilidade para estar perto sem ser invasivo, sem exigir uma reação
imediata.
Sempre que as pessoas da família se
mostrarem dispostas a isso. Pois nem todos têm facilidade para tocar no assunto
a qualquer momento. Outros gostam de falar no filho como se ele estivesse
presente, e está, no seu coração. Outros não gostam ou naquele momento não
querem falar. É preciso sensibilidade e sutileza diante desta situação.
Os pais não esquecem. Talvez seja
complicado para as pessoas que estão de fora tocar no assunto. Por isso deve se
respeitar o momento de cada um. E até mesmo perguntar se quer falar no assunto
ou não, o que não pode é fazer que nada aconteceu, como se a pessoa não tivesse
existido ou que esta tudo bem.
A normalidade almejada ou esperada e
que se tinha antes, não existe mais. Um pai esquecer seu filho, é improvável. O
que acontece é um aprender lento a viver sem a presença do filho. É um aprender
a lidar com a saudade, com os dias sem ele, com a datas comemorativas, num
tempo que é singular. É necessário que se respeite a nova configuração
familiar, o tempo de cada um, e as modificações que vão ocorrendo nas pessoas.
Os pais que perdem um filho perdem
também a motivação e a empolgação para comemorar qualquer data. O seu conceito
sobre comemorações, felicitações, bem como o seu ânimo para festas fica
alterado. O conceito de felicidade modifica. Passa-se a reconhecer os momentos
felizes, e estes são muito diferentes do que já foi um dia. Não é mais a mesma
coisa comemorar um ano novo, dia das mães, dos pais, aniversário, natal, etc. É
claro que se comemora, que se sente alegria, mas falta um pedaço, nada mais é
completo e por mais que se tente, falta uma pessoa importante, amada e que não
é esquecida.
O convite dos amigos e familiares é
sempre bem vindo, desde que não seja uma imposição, que não se exija felicidade
plena, alegria transbordante ou o mesmo comportamento de antes. Desde que não
se negue que o amigo convidado perdeu um filho e se possa lidar com isso de
forma natural.
Colocando-se a disposição. Dando o
tempo necessário para que as pessoas retomem suas vidas. Ligando às vezes para
saber como estão, se precisam de alguma coisa, se querem conversar, receber
visita ou visitar. Respeitando seus altos e baixos. Não exigindo que reajam
como se o que aconteceu fosse um evento banal “já passaram três meses, a vida
continua, tem que reagir”. A memória é atemporal. Quando a lembrança volta, não
importa o tempo que passou, parece que foi hoje. Falando quando se permitir
falar e ouvindo sempre que for necessário. Não passando a mão pela cabeça como
se o sofrimento fosse a única coisa que lhes resta. Mas apontando saídas, não
duvidando da dor, mas dizendo que é sim possível se reconstruir a vida,
diferente daquela que existiu, mas nem por isso pior. Exercendo a capacidade de
acolhimento e não de pena. Tratando as pessoas não como doentes, elas não estão
doentes, estão aprendendo a viver sem o filho. Colocando-se no lugar dessas
pessoas, por mais difícil e assustador que possa parecer, e se perguntado o que
me ajudaria nesta situação?!
Cada pessoa reage diante de uma
situação traumatizante, de acordo com a sua estrutura psíquica. Contar com uma
rede de apoio saudável é muito importante. Ter espaço para expor seus
sentimentos é fundamental para que se estabeleçam as mudanças que são inerentes
à perda. Mudança de valores, de hábitos, de conceitos, de interesses, etc.
Muitos pais são levados a
psiquiatras, padres, centro espíritas, psicólogos, etc. No intuito de que algo
seja feito de imediato. É claro que alguns cuidados são necessários e
imediatos, cuidados com a alimentação, com o sono, com a tristeza que pode
evoluir para depressão. Porém é necessário que se respeite o jeito de cada um
de lidar com a situação, pois nem todas gostam de utilizar medicamentos e estes
devem ser usados com orientação médica e com cautela. Luto não é doença e a dor
que ele traz não cura com analgésico. À vontade de morrer é diferente do risco
de se matar, e um profissional capacitado deverá saber diferenciar estes
sentimentos. A procura por um padre ou centro espírita, pode ser sugerida,
jamais imposta. Deve se respeitar à fé de cada um e até mesmo a falta dela.
Os psicólogos e médicos que irão
trabalhar com pais, devem saber que estão diante de um tipo de luto muito
particular, e que pode não responder da mesma forma que os outros tipos, em
hipótese alguma, dizemos que será pior, porém com outras características e
tempo de reação.
Não importa a forma como o filho
partiu, se foi em acidente, em um assalto, por doença, etc. Falar sobre o
assunto é muito delicado. Relatar fatos e detalhes só para satisfazer a
curiosidade de quem pergunta é muito dolorido. Os questionamentos sobre os detalhes
do que aconteceu, talvez sejam os mais inconvenientes e os que mais machucam os
pais, principalmente quando parte de pessoas com as quais não se tem
intimidade, nem amizade e muitas vezes nem contato. Essa situação só pode ser
pior, nos momentos em que estas mesmas pessoas vem querer contar algum detalhe
desconhecido, ou algum fato chocante relacionado ao ocorrido. Duvida-se até das
intenções dessas pessoas. Será que estão mesmo a fim de ajudar? Será que querem
apenas saber qual a reação, o grau de comoção, ou será que lhes faz bem a
tristeza do outro?
Então, antes de perguntar aos pais
algum detalhe sobre o acontecido, sugerimos que se pense para que vai lhe
servir esta informação, se for simplesmente para satisfazer a sua curiosidade,
talvez seja melhor conter-se e não perguntar; se for para ajudar a esclarecer
alguma duvida ou para contribuir com alguma colocação coerente para clarear
algum fato, que se faça com sutileza e respeito.
Nenhum comentário:
Postar um comentário