O luto e o estresse são importantes
fatores que ajudam a aumentar o sofrimento de mães que tiveram a experiência de
terem filhos natimortos, além de terem dificuldades em conviver com o silêncio
que as pessoas ao redor impõem em relação à perda da criança. Outro aspecto que
impulsiona a dor e a fragilidade emocional da mãe é o despreparo dos hospitais
para cuidar de mulheres que passaram pela experiência de ter natimortos.
Mãe se
sente humilhada por não ser capaz de gerar um filho vivo
Tendo como suporte teórico a Teoria
do Luto, a psicóloga Márcia Maria Coelho Rodrigues entrevistou 9 mulheres que
passaram pela experiência de ter um filho natimorto , entre 2007 e 2008, para
desenvolver a pesquisa A experiência da mãe por ter um filho natimorto,
mestrado defendido na Escola de Enfermagem (EE) da USP e orientado pela professora
Regina Szylit Bousso.
Em seu estudo, Márcia observa quatro
momentos marcantes na vida da mãe. “O primeiro, é quando a mãe ouve a notícia
da morte de seu filho durante a consulta de pré natal. Ela não acredita porque
não consegue entender a morte, afinal estava aguardando a vida de seu bebê. Em
alguns momentos, pensa até que está sentindo o bebê mexer em sua barriga”,
explica Márcia.
Segundo a pesquisadora, a notícia de
que o bebê morreu durante a gravidez é um grande choque. “É difícil acreditar
que é realidade. Depois de muito tempo sonhando com a criança e fazendo planos
a mãe fica exausta, tem uma profunda dor emocional, acompanhada de um
sentimento de vulnerabilidade diante da notícia que terá um filho natimorto”,
diz a psicóloga.
Após o choque inicial, em que a mãe
se vê diante de um natimorto, há o segundo momento significativo: o parto.
Circundado por estresse e medo, a mulher não imagina como será dar a luz a uma
criança morta e por ter um parto sem sentido. Segundo Márcia, “a mãe é obrigada
a passar por todas as etapas do parto, inclusive as dores. Ela se sente
humilhada por não ter sido capaz de gerar um filho vivo.”
Um dos grandes problemas desse
segundo momento é durante o parto. “A mãe precisa tomar a decisão de ver ou não
o filho morto. Nem sempre ela consegue verbalizar o desejo de conhecer, tocar,
segurar no colo o seu filho que agora está morto. Nesta situação, outras
pessoas acabam decidindo por ela o que fazer. Assim, as mães têm dificuldades
para se despedirem de seus filhos e isso dificulta a compreensão do que
aconteceu e, consequentemente, complicando o seu luto ”, ressalta.
O terceiro momento é a saída da
maternidade de mãos vazias. Novamente retorna o sentimento de humilhação e
tristeza por não ter conseguido dar a luz um filho vivo e o estresse de sair de
uma maternidade sem seu bebê é algo traumatizante para a mulher.
Após esse fato, vem o quarto momento
significativo, que é o luto social. “Depois que sai da maternidade, a mãe se
sente sozinha e se encontra em um ambiente em que falar do assunto é proibido.
As pessoas, às vezes com medo de entristecer mais a mulher, fazem uma espécie
de ‘voto de silêncio’. O problema é que muitas mães que se veem diante de
filhos natimortos querem outro tipo de apoio e necessitam conversar sobre o
assunto para entender melhor o que ocorreu e digerir as informações”, explica a
pesquisadora.
Suporte à mãe
Um dos principais aspectos que pode ajudar as mães de filhos natimortos a
superar a difícil experiência é o suporte tanto das maternidades quanto das
pessoas próximas da mulher. “A mãe está muito frágil e precisa de cuidados
diferenciados tanto dos hospitais quanto dos amigos e familiares. Muitas vezes
as ações promovidas para manter o bem-estar da mulher são impróprias e acabam
piorando seu estado emocional, o seu luto”, descreve Márcia.
O apoio da maternidade é fundamental
para que a mulher tenha a experiência do luto amenizada. Um dos fatores
positivos para essa superação é o atendimento diferenciado dos hospitais. “Em
muitas maternidades as mães que acabaram de fazer o parto de um filho natimorto
são colocadas juntos com outras mulheres que também tiveram bebês. O estresse e
o sentimento de culpa e impotência aumenta quando, após a perda, a mãe se
depara com outras mulheres amamentando seus filhos saudáveis. É surpreendente
que ainda hoje encontramos hospitais de metrópole no estado de São Paulo que
não levem esse fato em consideração. Os profissionais da saúde devem
compreender essa realidade e a dificuldade desse momento para as mães e dar o
suporte necessário para minimizar o sofrimento dessas mulheres”, recomenda
Márcia.
(Fonte:http://www.usp.br)